Thursday, January 17, 2008

Primeira Sessão...

Apontámos a reunião para as 15h. É uma hora boa, é uma hora boa sim senhor, sobretudo para quem não tem mais nada que fazer, é uma hora boa sim senhor, porque as manhãs de quem não tem emprego servem para dormir ou descansar a pestana já gasta dos infimos copypastes e envios em sequência frenética de CV's, esse bem aventurado latino. CV meu senhor. Como a ti as minhas preces não chegam.
Com o aproximar da hora reorganizei as cadeiras, coloquei a máquina de café em cima de uma mesa à entrada, bem acompanhada por copinhos de plástico, porque há que pensar na reciclagem e depois porque os de vidro têm de ser lavados e não há paciência para isso. As famosas bolachinhas, os croquetes e rissóis de tão bem-aventuradas reuniões também faziam parte do cardápio. Estava tudo a postos para mais uma reuniao AA de desempregados.

Começaram a chegar um a um e foram-se sentando.
Demos início à reunião.

O meu nome é D e sou desempregado.
Sê bem-vindo D, disseram todos em uníssono.
Estou aqui para partilhar convosco o que tem sido a minha vida até hoje. Já lá vão 180 desde o meu último biscate.
Todos batem palmas.
Desde então levanto-me diariamente sem vontade de regressar ao campo de batalha. Esse perigoso campo que dá pelo nome de "envio de CV em catadupa seja por via e-mail, correio normal com carta registada e aviso de recepção ou ainda o tão famigerado correr todas as capelinhas". Pois é. O aviso de recepção é importante caros amigos. Muito importante. Quanto mais não seja para ficarem com a certeza que a vossa carta ficou no edifício, nem que seja na secretária do Segurança da entrada. As idas pessoalmente ao local são produtivas, mas desde a minha última romaria que gastei a sola dos sapatos. E enquanto não remendar a sola, não posso continuar incessantemente a insistir e a ficar com nada mais nada menos que já 3 calos nos pés, fruto da ausência de sola. Entretanto nas notícias a Economia cresce... Pois cresce, mas não especificam é os moldes desse crescimento. Como diria a minha santa avozinha: "a partir de uma certa idade uma pessoa cresce mas é para os lados." E como a Economia já tem uma certa idade... Não sei gostava que me esclarecessem.
Os centros de emprego rebentam pelas costuras e vá lá uma pessoa querer fazer um comentário inocente a um amigo com emprego que ainda leva com respostas tortas: "se ficas muito tempo a contemplar o vazio, o vazio passa a contemplar-te a ti". Olha que bela metáfora. Ao menos contempla algo bom, diria eu. Não há nada mais irritante do que ouvir tons paternalistas de quem tem o cuzinho bem confortavelzinho numa poltrona "trabalhista". Não é uma tradução muito fidedigna, mas pronto: Labour=Trabalho, Quem trabalha=trabalhista. Ou será trapalhista? Não sei. Gostava é que não me azucrinassem o juízo com teorias de como estou a fazer pouco...
Acham pouco? Daqui a nada só falta deitar-me em frente às portas das empresas com um enorme cartaz: "Não saio daqui enquanto não contratarem o meu talento. Porque há coisas fantásticas, não há? E eu sou uma delas". E depois em jeito de P.S: "e aproveito para fazer dieta... Sim estou em greve de fome até me darem emprego".
Por favor... Só dá vontade de dizer: humpft! Que mania de pregar... Deve ser contagioso. Ou da genética do país... Sei lá, qualquer coisa.
E uma pessoa começa a chegar à conclusão que andou a "queimar as pestanas" tantos anos com livro atrás de livro, curso e especializações, para agora e fruto de não ter um gigantesco factor C estar na prateleira... Ou no estendal a apanhar sol... Pode ser que enxugue.

Enfim, tudo para dizer que agora preciso de ir pôr os pés de molho...

Obrigado a todos.
Todos batem palmas...

Eu chamo-me A e estou há mais de 230 dias sem fazer nada.
Olá A, todos em conjunto.
O D tem razão. Também ouço esses comentários. Amigos? Uma ova. Se estivessem na minha situação falavam menos...
Sou licenciado, com mestrado no final e entrevista atrás de entrevista dizem-me que tenho qualificações a mais. Até já nem acrescento isso na "oração". O senhor CV é muito retrógrado e então ficou-se pelo numero 12. E nem assim... Ou é de mais ou é de menos ou é apenas muita gente... Mas entretanto as "grandes cabeças" ou "cabeçudos" como os do carnaval, todos os meses têm o porquinho bem cheio, de tanta comida. Qual letargia qual quê, o porquinho até rebola... É pena que num país à beira mar plantado, o declive seja tão grande que até as rochas choram...

Obrigado.

Eu sou o M e como sou novo aqui e não estou muito bem disposto, quero dizer apenas: humptf!
Força M, todos em conjunto.

Depois de assinada a acta. Correu tudo para a mesinha de café. Há que ir impedindo que as paredes do estômago colem...

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