Thursday, May 15, 2008

um desempregado na reforma...

Tenho saudades das reuniões de AA de desempregados. Estavámos todos unidos numa mesma causa: how to do a lot by doing absolutely nothing...
Costumava imaginar-nos a todos sentados à volta da mesinha de croquetes em amena cavaqueira, partilhando experiências, confessando medos, bebericando bebidas com bolinhas e sem pensar em mais nada senão: humm que bons que são estes croquetes...
Quando chegava a vez de cada um falar, a pausa, o instante em que nenhum se sentia diferente, em que ninguém se armava ao pingarelho ou puxava dos galões... Sinto falta desse espaço. De quando o trabalho era uma necessidade e não um sacrifício. Sinto falta de ter tempo para procurar essa outra pessoa que desconheço e que aparentemente sub-alugou o espaço que alguém convencionou chamar-se eu...
Acho que a palavra certa seria essa. Não, esperem, a palavra "correcta", agora sim, é essa - eu...
Sinto falta desse tempo...
Quando podia analisar, pensar, magicar formas de conhecer esse eu... De melhorá-lo. Sim porque sempre quis ser melhor, mas "melhor" não na terminologia social da palavra, antes sim, na individual, de como ao espelho de um outro, ainda que nessas breves horas de reunião, sentia que podia ser melhor...estando na companhia de quem sabia do que falava...
Acima de tudo sinto falta de me poder dedicar a ti, que sempre me apoiaste a todas as horas, Mr Cutty.
Mais que o resto, sinto falta da liberdade de acordar com o sol no rosto e não com os uivos do vento aos ouvidos, pela madrugada... Sinto falta de tudo que é o ter tempo, para ter tempo...
Por mais deprimente que isso possa ser...

P.S: próxima reunião pode ser da canasta, agora que já trabalho, podemos jogar aos feijões, não?
Bem eu depois digo a data.

Friday, January 25, 2008

No confessionário da AA para desempregados...

Dia D. O meu dia. Que aliás é todos os dias. Dormir. D de dormir. D de saber bem dormir, mesmo que seja uma palavra que não comece por D. D de me deixar estar na cama as horas que me apetecer. D de preguiçar como se não houvesse amanhã. D de sono. Mesmo que se queira contrariar a sua vontade. E mais uma vez não se escreva com D. Mas quem (De)nota?

Tem sido o fenómeno mais frequente. Dormir. Já sei que o meu voicemail vai ser entupido com "tu é que sabes", e de cada vez que não me apetecer ir a algum lado à última da hora, vão chover gafanhotos no meu quintal, de tantas pragas que me vão rogar. Não entendo aliás, voltando atrás no dicionário, não compreendo. Não compreendo o porquê da minha atitude ser alvo de recriminação e de tratamento criminal. Se calhar esqueci-me de preencher alguma papelada no centro de apoio à amizade, alguma alínea que dita que tenho de me apresentar semanalmente em cafés e jantaradas, que "estar deprimido" é psicológico e que com uma boa dose de vitamina C e distracção a coisa vai ao lugar, e ainda que não há qualquer desculpa para desistir de uma combinação se de repente já não estiver com espirito para sair de casa.

Não sabia que havia tanto pré-requisito. Nem no tempo das minhas candidaturas à universidade havia tanta "picuinhisse", se é que a palavra existe. Se não existe ainda bem, é sempre bom ocupar o tempo a inventar palavras ou a desconstruir qualquer significado que elas não tenham. O desemprego faz destas coisas a uma mente já de si, em essência, libertina. Apliquei mal a palavra? Paciência. Mas continuando. Mesmo que quisesse explicar não o conseguia. Até porque enquanto tento "recuperar-me" também eu não entendo o processo que me leva a mudanças de humor ao sabor do vento. Posso acordar com vontade de ir tomar um café agendado e a meio do dia, a brisa começar a soprar para norte e eu, com frio e pés gelados, só me apetecer ficar em casa com um belo cobertor e uma chaleira, porque a sul as temperaturas são mais amenas. E depois porque a chaleira não tece julgamentos e o cobertor aquece-me em vez de me embrulhar em apartheids de psicologia barata como "depressão não existe" e "com umas saidinhas à rua a coisa passa".

Eu saio todos os dias para ir ao mini-mercado. Porque ainda não encontrei uma solução que me permita não cair para o lado se não comer. Ainda pensei na comida para astronauta, mas é mais cara que a normal e só com alpista não me safo. E se me esforço tanto por contrariar a inércia só pedia que não me dificultassem o esforço. Não é fácil encontrar bananas no mini-mercado à segunda-feira. Ah pois que não é não. Portanto deixem o macaquinho em paz. Já basta ter o sotão carregado deles. E desde o último contentor que mandei vir da China, ainda não consegui escoar a mercadoria.

Dia D. O meu dia. Dia de deitar cá para fora umas palavras, quaisquer. Mesmo sem nexo, objectividade ou coerência prosaica, uma palavritas. Oh pah, escrever uma coisa qualquer só porque me dá na real gana. Oh pah, dia D porque sim.

Thursday, January 17, 2008

Primeira Sessão...

Apontámos a reunião para as 15h. É uma hora boa, é uma hora boa sim senhor, sobretudo para quem não tem mais nada que fazer, é uma hora boa sim senhor, porque as manhãs de quem não tem emprego servem para dormir ou descansar a pestana já gasta dos infimos copypastes e envios em sequência frenética de CV's, esse bem aventurado latino. CV meu senhor. Como a ti as minhas preces não chegam.
Com o aproximar da hora reorganizei as cadeiras, coloquei a máquina de café em cima de uma mesa à entrada, bem acompanhada por copinhos de plástico, porque há que pensar na reciclagem e depois porque os de vidro têm de ser lavados e não há paciência para isso. As famosas bolachinhas, os croquetes e rissóis de tão bem-aventuradas reuniões também faziam parte do cardápio. Estava tudo a postos para mais uma reuniao AA de desempregados.

Começaram a chegar um a um e foram-se sentando.
Demos início à reunião.

O meu nome é D e sou desempregado.
Sê bem-vindo D, disseram todos em uníssono.
Estou aqui para partilhar convosco o que tem sido a minha vida até hoje. Já lá vão 180 desde o meu último biscate.
Todos batem palmas.
Desde então levanto-me diariamente sem vontade de regressar ao campo de batalha. Esse perigoso campo que dá pelo nome de "envio de CV em catadupa seja por via e-mail, correio normal com carta registada e aviso de recepção ou ainda o tão famigerado correr todas as capelinhas". Pois é. O aviso de recepção é importante caros amigos. Muito importante. Quanto mais não seja para ficarem com a certeza que a vossa carta ficou no edifício, nem que seja na secretária do Segurança da entrada. As idas pessoalmente ao local são produtivas, mas desde a minha última romaria que gastei a sola dos sapatos. E enquanto não remendar a sola, não posso continuar incessantemente a insistir e a ficar com nada mais nada menos que já 3 calos nos pés, fruto da ausência de sola. Entretanto nas notícias a Economia cresce... Pois cresce, mas não especificam é os moldes desse crescimento. Como diria a minha santa avozinha: "a partir de uma certa idade uma pessoa cresce mas é para os lados." E como a Economia já tem uma certa idade... Não sei gostava que me esclarecessem.
Os centros de emprego rebentam pelas costuras e vá lá uma pessoa querer fazer um comentário inocente a um amigo com emprego que ainda leva com respostas tortas: "se ficas muito tempo a contemplar o vazio, o vazio passa a contemplar-te a ti". Olha que bela metáfora. Ao menos contempla algo bom, diria eu. Não há nada mais irritante do que ouvir tons paternalistas de quem tem o cuzinho bem confortavelzinho numa poltrona "trabalhista". Não é uma tradução muito fidedigna, mas pronto: Labour=Trabalho, Quem trabalha=trabalhista. Ou será trapalhista? Não sei. Gostava é que não me azucrinassem o juízo com teorias de como estou a fazer pouco...
Acham pouco? Daqui a nada só falta deitar-me em frente às portas das empresas com um enorme cartaz: "Não saio daqui enquanto não contratarem o meu talento. Porque há coisas fantásticas, não há? E eu sou uma delas". E depois em jeito de P.S: "e aproveito para fazer dieta... Sim estou em greve de fome até me darem emprego".
Por favor... Só dá vontade de dizer: humpft! Que mania de pregar... Deve ser contagioso. Ou da genética do país... Sei lá, qualquer coisa.
E uma pessoa começa a chegar à conclusão que andou a "queimar as pestanas" tantos anos com livro atrás de livro, curso e especializações, para agora e fruto de não ter um gigantesco factor C estar na prateleira... Ou no estendal a apanhar sol... Pode ser que enxugue.

Enfim, tudo para dizer que agora preciso de ir pôr os pés de molho...

Obrigado a todos.
Todos batem palmas...

Eu chamo-me A e estou há mais de 230 dias sem fazer nada.
Olá A, todos em conjunto.
O D tem razão. Também ouço esses comentários. Amigos? Uma ova. Se estivessem na minha situação falavam menos...
Sou licenciado, com mestrado no final e entrevista atrás de entrevista dizem-me que tenho qualificações a mais. Até já nem acrescento isso na "oração". O senhor CV é muito retrógrado e então ficou-se pelo numero 12. E nem assim... Ou é de mais ou é de menos ou é apenas muita gente... Mas entretanto as "grandes cabeças" ou "cabeçudos" como os do carnaval, todos os meses têm o porquinho bem cheio, de tanta comida. Qual letargia qual quê, o porquinho até rebola... É pena que num país à beira mar plantado, o declive seja tão grande que até as rochas choram...

Obrigado.

Eu sou o M e como sou novo aqui e não estou muito bem disposto, quero dizer apenas: humptf!
Força M, todos em conjunto.

Depois de assinada a acta. Correu tudo para a mesinha de café. Há que ir impedindo que as paredes do estômago colem...