Friday, January 25, 2008

No confessionário da AA para desempregados...

Dia D. O meu dia. Que aliás é todos os dias. Dormir. D de dormir. D de saber bem dormir, mesmo que seja uma palavra que não comece por D. D de me deixar estar na cama as horas que me apetecer. D de preguiçar como se não houvesse amanhã. D de sono. Mesmo que se queira contrariar a sua vontade. E mais uma vez não se escreva com D. Mas quem (De)nota?

Tem sido o fenómeno mais frequente. Dormir. Já sei que o meu voicemail vai ser entupido com "tu é que sabes", e de cada vez que não me apetecer ir a algum lado à última da hora, vão chover gafanhotos no meu quintal, de tantas pragas que me vão rogar. Não entendo aliás, voltando atrás no dicionário, não compreendo. Não compreendo o porquê da minha atitude ser alvo de recriminação e de tratamento criminal. Se calhar esqueci-me de preencher alguma papelada no centro de apoio à amizade, alguma alínea que dita que tenho de me apresentar semanalmente em cafés e jantaradas, que "estar deprimido" é psicológico e que com uma boa dose de vitamina C e distracção a coisa vai ao lugar, e ainda que não há qualquer desculpa para desistir de uma combinação se de repente já não estiver com espirito para sair de casa.

Não sabia que havia tanto pré-requisito. Nem no tempo das minhas candidaturas à universidade havia tanta "picuinhisse", se é que a palavra existe. Se não existe ainda bem, é sempre bom ocupar o tempo a inventar palavras ou a desconstruir qualquer significado que elas não tenham. O desemprego faz destas coisas a uma mente já de si, em essência, libertina. Apliquei mal a palavra? Paciência. Mas continuando. Mesmo que quisesse explicar não o conseguia. Até porque enquanto tento "recuperar-me" também eu não entendo o processo que me leva a mudanças de humor ao sabor do vento. Posso acordar com vontade de ir tomar um café agendado e a meio do dia, a brisa começar a soprar para norte e eu, com frio e pés gelados, só me apetecer ficar em casa com um belo cobertor e uma chaleira, porque a sul as temperaturas são mais amenas. E depois porque a chaleira não tece julgamentos e o cobertor aquece-me em vez de me embrulhar em apartheids de psicologia barata como "depressão não existe" e "com umas saidinhas à rua a coisa passa".

Eu saio todos os dias para ir ao mini-mercado. Porque ainda não encontrei uma solução que me permita não cair para o lado se não comer. Ainda pensei na comida para astronauta, mas é mais cara que a normal e só com alpista não me safo. E se me esforço tanto por contrariar a inércia só pedia que não me dificultassem o esforço. Não é fácil encontrar bananas no mini-mercado à segunda-feira. Ah pois que não é não. Portanto deixem o macaquinho em paz. Já basta ter o sotão carregado deles. E desde o último contentor que mandei vir da China, ainda não consegui escoar a mercadoria.

Dia D. O meu dia. Dia de deitar cá para fora umas palavras, quaisquer. Mesmo sem nexo, objectividade ou coerência prosaica, uma palavritas. Oh pah, escrever uma coisa qualquer só porque me dá na real gana. Oh pah, dia D porque sim.

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